APAIXONADA PELO TRABALHO E PELA FAMÍLIA
Oracilda Souza, sócia
“Fiz valer cada momento e não mudaria absolutamente nada. Agradeço a Deus por meus quatro filhos de ouro.”
Oracilda Souza é uma mulher forte, confiante e de sorriso largo. A paraibana de Jericó sempre viveu na cidade, ao contrário do marido, Delino, que morava na área rural do mesmo município. “Meu pai era comerciante, dono de uma loja de tecidos. Como muitos homens de seu tempo, decidiu que entre os 10 filhos e filhas somente os meninos prosseguiriam os estudos fora de casa após o primário. Fiquei decepcionada, porque meu maior sonho de infância era cursar o Magistério”, conta.
Longe de se deixar abater, a garota aprendeu a costurar com a mãe e, aos 14 anos, já ganhava dinheiro com a atividade. “Por toda a vida eu gostei de trabalhar, sou apaixonada por trabalho! Costurava todo tipo de roupa na sala de minha tia, que me presenteou com uma máquina de costura. Nunca mais deixei o mundo das linhas e tecidos.”
Além de costurar, sua outra paixão era dançar. “Adorava ir aos bailes!” O encontro com o fundador da Iquine foi justamente em um desses eventos, aos 15 anos. Na vez seguinte em que se viram a moça estava com 18 anos e o casal começou a namorar. “Fui difícil para firmar compromisso. Gostava de dançar, dos namoricos nos bailes, porém ele soube me conquistar. Foi o primeiro e único namorado sério.” Os jovens ficaram noivos, se casaram e se mudaram em seguida para Recife, onde Delino conseguiu um emprego na fábrica de tintas Diamante. “Ali, seu desejo de empreender passou a ganhar forma.”
Logo nasceu Ronaldo, o primogênito dos Souza. “Eu era uma mocinha, tinha 19 anos, e foi bastante complicado porque não tinha ninguém de minha família por perto para ajudar com o bebê.” Enquanto isso, a produção da Iquine demorava a engrenar. “Juntamente com meu irmão Gilvan, eles foram dando conta das encomendas, que aos poucos aumentavam. Primeiro as colas, depois os vernizes e, por fim, as tintas.”
Ronaldo estava com 6 anos quando a mãe se dividia entre um cotidiano puxado e os afazeres do lar e da fábrica. “Fazia almoço, levava meu filho à escola, ia buscar, costurava e à tarde ia para a Iquine fazer a escrita da firma. Fiquei seis anos desempenhando essa tarefa.” Um dia, em seu aniversário, o companheiro estacionou na garagem um Fusca chamativo, o “besouro verde”, sua cor favorita. “Ele falou que era hora de aprender a dirigir e facilitar a rotina, porque antes eu fazia tudo de ônibus.”
Na mesma época, a família abriu o Lojão do Pintor em Jaboatão dos Guararapes, que funcionava como um showroom de todos os produtos da marca. “A loja foi mais um caminho acertado da empresa para a divulgação, quando ainda não havia reconhecimento da Iquine. Eu fazia de tudo, atendia o balcão, cuidava do caixa, vendia e comprava. Era dona de um negócio lucrativo no qual me realizei profissionalmente por 35 anos!”
Oracilda acabou se aposentando a contragosto em 2020, devido à pandemia de Covid-19. “Não fazia sentido ficar isolada o dia inteiro no andar de cima do comércio. Passei a costurar mais, a pintar, fazer artesanato e projetos arquitetônicos! Adoro construir e reformar, só não tenho o diploma de arquiteta. Desenhei todas as plantas das casas que construímos e dava o documento para a profissional apenas conferir as medidas e assinar.”
Olhando em retrospectiva para sua história, a matriarca afirma que nunca imaginou o tamanho que o negócio familiar tomaria. “Trabalhei demais, superei dificuldades e sempre encarei os fatos em um patamar de equilíbrio, com alegria. Até porque o dia a dia era corrido, não dava tempo para problematizar. Fiz valer cada momento e não mudaria absolutamente nada. Agradeço a Deus por meus quatro filhos de ouro.”
No dia 29 de dezembro de 2023, o casal Souza completou 58 anos de união. E ao esposo ela credita todo o sucesso da Iquine. “Sinto muito orgulho dessa indústria, e o único responsável por isso é Delino. Nós o ajudamos, mas ele criou tudo sozinho. Se pudesse, ele moraria dentro da fábrica e não sairia mais! Nossos filhos e netos seguirão seu legado e exemplo.”